A ideia de “Ninguém solta a mão de ninguém” ou “Mexeu com uma mexeu com todas”… não é nova, nem moderna, muito menos “Simples assim!”
Desde sempre os homens foram preparados para o domínio, a conquista, a guerra. Os homens saíam para conquistar seu território, destruir seus inimigos e defender sua sobrevivência, bravos guerreiros… enquanto suas pequenas… teciam longos bordados…
O Pai é o externo, o mundo, o social, enquanto a Mãe, é interno, é dentro, é aconchego, colo… e é nesse sentido que a reunião entre mulheres sempre foi a forma de manutenção e repasse das tradições, no modo amor.
O preparo dos alimentos, a confecção do enxoval da noiva, da criança para nascer, sempre eram os momentos para a troca de conhecimentos de mulher para mulher, nas rodas de bordados, de “fazeção” de comidas, quitandas, massas; nos momentos onde as conversas de mulher fluíam, onde uma ensinava a outra, quando uma escutava a história da outra, os momentos onde se expunham os segredos, falavam de suas feridas, suas cicatrizes, seus dramas, seus dilemas, e eram entendidas uma pelas outras; as avós com sua sabedoria e experiência de vida, as mães dando colo às filhas, as moças no seu grupo de amigas, cenários comuns a todas as mulheres que tiveram a oportunidade de viver esses encontros… onde todas, punham a mão na massa, literalmente…
Lembranças amorosas de modelos de mulher que todas nós temos, e de sensações e emoções e sons desses encontros, carregados de afeto. E que hoje em dia se resumem ao: dia da noiva, chá de revelação e chá bar ou de fralda… que também não são mais só restritos às mulheres…
As mulheres precisam muito mais umas das outras, do que pensamos, é das nossas amigas e irmãs… de alma, que precisamos para falar dos nossos sintomas de ansiedade, inquietude, dúvida, insegurança… de quando nos sentimentos amordaçadas, caladas a força, inertes, sem saber como reagir, ou descontroladas, com uma fúria irracional, e ao mesmo tempo, se não fosse por isso, sabermos ser plenamente capazes, com todas as nossas forças.
Pensar sobre quem somos, o que realmente precisamos, onde estamos e onde vamos, é praticamente uma epidemia, entre todas que se sentem partidas ao meio, caídas numa armadilha…
Tantas são essas armadilhas…
Violência contra a própria aparência, comparações fúteis, cargas de trabalho duplicadas, triplicadas, mensagens duvidosas sobre felicidade, cuidado e sucesso. Lutas internas sobre o que realmente nos importa e aquilo que se espera de nós…
Cair na armadilha e não conseguir sair dela, não enxergar além da névoa, do pouco, só conseguir repetir padrões, termos, comportamentos que exijam desencontros, negar os próprios sentimentos, não passar pelos próprios ciclos, lamber as feridas e se orgulhar das cicatrizes!!
Olhar outra mulher como irmã, re conhecer nela a nossa própria dor, a nossa própria imagem, pois, todas queremos a mesma coisa… sermos aceitas, sermos queridas e amadas, pertencermos ao clã das nossas iguais, daquelas que morrem e vivem a cada ciclo menstrual, a cada perda do que ainda nem foi… da saudade do que que nem conhecemos…
“Lugar de mulher, é onde ela quiser!” é muito mais do que um post em rede social!! Só quem conseguiu sair da armadilha, é capaz de levar suas irmãs pelo mesmo caminho!! Uma mulher só leva a outra… até onde ela mesma conseguiu ir!!
Essas idéias todas são de Clarissa Pinkola Éster, autora do livro Mulheres que correm com os lobos que é o fio condutor de todo o trabalho proposto nesta palestra e nos grupos que se propõe formar neste projeto. Os grupos são formados por no máximo, 5 mulheres, com começo meio e fim. 10 encontros, 10 contos de fábulas analisadas no livro.